domingo, 29 de março de 2009

Notícias do Concelho: Miguel Portas na Escola Secundária do Carregal do Sal

A Escola Secundária/3 de Carregal do Sal recebeu o eurodeputado Miguel Portas na passada sexta-feira, 20 de Março, ao início da tarde, a convite de um grupo de alunos do 11.º ano denominado “Rumo ao Parlamento”, concorrente ao concurso “Parlamento dos Jovens” e ao projecto “Governo Sub 18″, para uma palestra no âmbito da actividade “EuroConversas com Miguel Portas”.Entre a assistência, que encheu o auditório da escola, com professores e alunos de diversas turmas, ultrapassando as sete dezenas de presenças, contavam-se também o vereador da Educação e Cultura da Câmara Municipal de Carregal do Sal, Óscar Paiva, e o director do Centro de Formação de Professores do próprio concelho, Paulo Correia.A saudação de boas vindas foi feita por José Manuel Carvalho, vice-presidente do Conselho Executivo da Escola, Carla Figueiredo, professora responsável da actividade, e Ricardo Sousa, porta-voz do referido grupo de alunos, seguindo-se a intervenção de Miguel Portas, cuja palestra subordinou ao tema “Portugal - A Crise e a Europa”, mas dissecado em diferentes áreas temáticasIniciou-a com uma comparação em que descreveu os países desenvolvidos como a parte mais iluminada do planeta e os países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento como a parte menos iluminada, apontando que o nosso país está a perder em todos os indicadores de desenvolvimento. Nessa comparação falou também da esperança média de vida, apontando-a naturalmente como mais alta nos países desenvolvidos, mas retirando daí o dado curioso de o valor da esperança média de vida em Portugal ser superior ao dos EUA. Como causa principal, justificou esse dado com a inexistência de Serviço Nacional de Saúde nos EUA, enquanto que em Portugal já existe há 30 anos.Ao falar do poder de compra, Miguel Portas apresentou dados comprovativos de que entre 1995 e 2002 o PIB cresceu moderado e o desemprego quase triplicou, referindo ainda que os salários dos portugueses perderam poder de compra desde 2003. Ao apontar que o desemprego deu um salto desde 2001, salientou que é mais elevado nas mulheres que nos homens e que explodiu nos jovens. Segundo focou, a taxa de risco de pobreza no nosso país é a mais elevada da União Europeia, o que atribuiu à desigualdade de rendimentos entre Portugal e a Europa.Também a nível da formação Portugal sai penalizado em comparação com os países parceiros europeus, salientando que até os países da Europa de Leste têm índices mais elevados ao nível da formação. Relativamente ao abandono escolar precoce, o eurodeputado deu a saber que Portugal tem uma taxa duas vezes superior que todos os outros países da União Europeia, apresentando taxas de 36,3% em Portugal e 14,8% na Europa. “Portugal é o país da Europa que faz pior investimento na educação, tem Magalhães a mais e os professores descontentes”, acusou Miguel Portas.Ao comparar a evolução dos antigos países da coesão (Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda), Miguel Portas realçou que, por exemplo, a Irlanda sempre galgou na recuperação, enquanto Portugal desenvolvia uma economia de endividamento e criava “uma crise nova sobre a crise velha”, comentando então que “temos duas crises para resolver ao mesmo tempo”. Acusou que nos anos 80 “os lucros libertos da acumulação” eram aplicados no capital da bolsa, em vez de serem aplicados em investimentos, e que por isso “os activos financeiros de capital fictício aumentaram 15 vezes, enquanto a produção aumentou apenas 5 vezes, ao mesmo tempo que o acesso ao crédito era alimentado”. Essa estratégia, como o eurodeputado sublinhou, “visava fortalecer a banca e permitir às famílias o acesso ao consumo”.Miguel Portas sustenta que, com a situação actual de crise financeira, “a Banca colocou de joelhos a política” e que “os Governos devem responder por isso”, observando que “a tarefa da democracia não é salvar os banqueiros”, salvaguardando, no entanto, que seria uma irresponsabilidade querer que os bancos fossem à falência. “Agora andam a correr atrás do prejuízo!”, censurou.“Cada projecção é pior que a anterior”, disse Miguel Portas acerca das previsões do FMI para 2009 respeitantes ao crescimento da economia, e acusou: “Esconder a verdade é o pior que se pode fazer numa situação de crise”. Ao explicar por que é que a Europa não está em condições de responder a esta crise, recordou que até 1981/82 os EUA, a União Europeia e o Japão faziam investimento directo dos lucros, e que depois, enquanto os lucros explodiam, passaram a fazer-se ano a ano menores investimentos. Dessa “desregulação do investimento” culpou, principalmente, Ronald Reagan (EUA) e Margaret Thatcher (Inglaterra), por terem decidido não investir os lucros e aplicá-los nas Bolsas. “Com os activos financeiros do mundo a gerarem o enriquecimento de alguns, só podia acabar mal!”, comentou Miguel Portas. Na sua opinião, “é preciso uma Europa que seja capaz de responder à crise económica e social em que os banqueiros nos meteram”.Ao terminar a palestra, o eurodeputado deu uma explicação da crise que afecta a maioria da sociedade portuguesa, recordando o que foi dito pelos Governos: “Os salários têm de ser contidos e moderados, vão ter crédito fácil para as vossas necessidades”. Perante isso, concluiu que se trabalhava para o crédito, não para a poupança, o que fez aumentar o crédito até não haver capacidade de resposta, e que o essencial agora, entre outras medidas (taxar transacções em bolsa, crédito sem usura, combate à evasão fiscal e aos offshores, etc.), “é urgência na defesa do poder de compra dos salários”.Seguiu-se um período de debate, que se desenrolou muito vivo e bem participado, demonstrando a atenção e o entusiasmo que a palestra colheu em toda a plateia. Em quase todas as perguntas, Miguel Portas encontrou ensejo de abordar novas questões, saindo o alto nível da sua intervenção aplaudido por diversas vezes.Por fim, na leitura de uma carta de agradecimento dirigida ao eurodeputado, Ricardo Sousa falou dos problemas “reais” da Humanidade, concluindo que, mais que mergulhados numa crise económica, “estamos embrenhados numa crise social que terá, a curto prazo, efeitos devastadores”. Acrescentou: “Os nossos pais deixar-nos-ão um mundo em pior estado do que aquele em que o receberam. Temos, pois, de ser nós, jovens, os agentes da mudança”. Num merecido elogio a Miguel Portas, enalteceu: “É por políticos como Vª Exª que continuamos a acreditar que o sistema democrático vale a pena, que a mudança é possível”.

Lino Dias - Texto retirado do Farol da Nossa Terra



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