sábado, 14 de março de 2009

Portugueses Sem Tempo para os Filhos

Os pais portugueses lamentam-se muito da falta de tempo para os filhos, mas estão hoje muito mais presentes na educação das crianças. Mudam fraldas, dão a comida e o banho, e até os levam ao médico se for preciso.
Segundo um estudo desenvolvido pela especialista em psicologia educacional, Leonor Balancho, e recentemente publicado em livro - «Ser Pai, Hoje», pela Editorial Presença - os pais portugueses tornaram-se mais intervenientes na vida dos filhos, revelam as suas emoções e são comunicativos.
Em conclusão, o pai português deixou de ser a figura distante e autoritária da família, que estava ausente para sustentar o lar, e que só intervinha quando as situações se tornavam «realmente complicadas».
Em 111 páginas, Leonor Balancho descreve esta mudança na forma como os portugueses exercem a paternidade, fruto de uma tese de mestrado da investigadora sobre a evolução do papel do pai na sociedade portuguesa.
Realizada com base em diversas entrevistas a três gerações dentro das mesmas famílias - filhos, pais e avós -, a especialista em psicologia educacional descobriu que o pai português «renasceu, reconstruiu-se e repensou-se», como declarou à Agência Lusa.
«Já é comum os pais darem o biberão, deitarem as crianças e contarem histórias», caracteriza a autora, sobre o novo perfil do pai na sociedade portuguesa.
Curiosamente, de acordo com Leonor Balancho, que sublinha a base científica do trabalho realizado, as grandes mudanças no papel do pai ocorreram devido à alteração da figura da mulher na sociedade portuguesa, que, automaticamente, teve reflexos na família.
A mulher «tornou-se economicamente independente, começou a sair de casa para trabalhar, e a ter menos tempo para os filhos, o que exigiu mudanças no papel que o pai desempenha».
Contudo, defende que a presença dos dois, cada um desempenhando o seu próprio papel, é fundamental para os filhos: Um pai não substitui uma mãe, ou vice-versa, mas «complementam-se».
«Cada um tem as suas características próprias, e deve viver de acordo com elas, interligando as situações do dia a dia em conjunto», advoga a mestra em Psicologia Educacional, professora na Escola Superior de Educação João de Deus e na Universidade Lusíada.
Apesar de ter partindo de uma base científica, «Ser Pai, Hoje» foi escrito de uma forma muito acessível aos pais em geral, estejam eles em situação de família tradicional, de divórcio, de adopção ou a viver a dinâmica das novas famílias.
Segundo a autora, quase todos os pais com quem falou se lamentam da falta de tempo para os filhos, e, no entanto, «são hoje homens muito mais presentes na família do que antigamente».
Se não têm o tempo que gostariam de ter, ajuda saber que «todos os bocadinhos passados com os filhos são bons se estiverem física e emocionalmente presentes».
A ausência do pai tem fortes reflexos negativos nas crianças, mas há pais que estão presentes fisicamente, e, contudo, distantes emocionalmente.
In Diário iol.pt


1 comentário:

  1. Pais ausentes não significa necessariamente pais displicentes.
    O que gera problemas na educação das crianças não é o facto de os pais trabalharem fora, mas a maneira como se comprometem com a educação dos seus filhos, a forma como administram o seu tempo e o tipo efectivo de educação que colocam em prática. Os pais podem estar fisicamente próximos dos seus filhos durante a maior parte do dia, mas podem não estar afectivamente disponíveis para eles. Não conversam intimamente, não brincam, discutem e gritam a maior parte das vezes que se dirigem à criança.
    Por outro lado, existem famílias que, mesmo estando a maior parte do dia longe dos seus filhos, conseguem manter um relacionamento “próximo”, afectuoso e envolverem-se na sua educação.
    Como é óbvio, numa sociedade em que o paradigma educacional sofre constantes mutações bem como o conceito de família, torna-se difícil os pais acompanharem todo este processo galopante.
    No entanto, infelizmente, nem sempre pais presentes é sinónimo de pais diligentes.

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